PROPOSTA PEDAGÓGICA DE TELÊMACO BORBA

PROPOSTA PEDAGÓGICA DE TELÊMACO BORBA

Hoje a Proposta Pedagógica que fundamenta o trabalho na Educação Infantil em Telêmaco Borba tem em princípio o homem como um ser histórico, intimamente ligado às relações sociais, políticas, históricas e culturais, às contradições e ao movimento que emanam do processo pedagógico. Este processo é considerado como um meio humanizador, devendo servir à elevação da condição humana e garantir a toda humanidade as condições sociais e a instrumentalização necessária para o enfrentamento das situações que fazem parte da sociedade.
A Pedagogia é o processo através do qual o homem se torna plenamente humano. No meu discurso distingui entre a pedagogia geral, que envolve essa noção de cultura como tudo o que o homem produz, tudo o que o homem constrói, e a pedagogia escolar, ligada à questão do saber sistematizado, do saber elaborado, do saber metódico. A escola tem o papel de possibilitar o acesso das novas gerações ao mundo do saber sistematizado, do saber metódico, cientifico. Ela necessita organizar processos, descobrir formas adequadas a essa finalidade. Esta é a questão central da pedagogia escolar. (SAVIANI, 1997, p. 89)
Para Saviani (1997, p. 19) “a escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber”. Assim, o processo de humanização busca a formação integral do indivíduo, sendo necessário trabalhar as questões cognitivas, pedagógicas, morais, sociais e psicológicas, educar de forma ampla com o intuito de proporcionar a compreensão do mundo, tendo capacidade de praticar a crítica de forma reflexiva, consciente, responsável e com embasamento teórico.
Educar significa proporcionar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis, e cuidar é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano, valorizando e ajudando a desenvolver capacidades, como limpar, alimentar, evitar riscos de quedas. Com isso, ao educar a criança num processo amplo, percebe-se o envolvimento do educar e cuidar, estando intimamente ligados. Como destaca o texto de Forest, disponível em: http://www.icpg.com.br (2008) “plenamente entendidas e aplicadas, cuidar e educar caminham simultaneamente e de maneira indissociável, possibilitando que ambas as ações construam na totalidade, a identidade e a autonomia da criança”. Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil:
O desenvolvimento integral depende dos cuidados relacionais que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto à forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados. (REFERENCIAL CURRICULAR PARA EDUCAÇÃO INFANTIL, 1999, p. 24)
O cuidar faz parte do processo educativo, sendo necessário valorizar e ajudar no desenvolvimento das capacidades da criança, envolvendo tanto a dimensão afetiva, relacionais, biológicos, alimentares e relacionados à saúde, bem como esses cuidados são oferecidos oportunizando o acesso aos conhecimentos diversificados. De acordo com o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998, p. 25) “o cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo”. Faz-se necessário cuidar da criança como um ser em constante desenvolvimento, com características próprias e singulares, promovendo o aumento de seus conhecimentos e habilidades, e ainda buscando torná-la autônoma no decorrer do processo de evolução.
Os CMEIs devem promover ações que contemplem as funções de cuidar e educar, buscando associar qualidade no processo educativo, considerando os contextos sociais, ambientais, culturais, buscando desenvolver no educando conhecimentos diversos num aspecto macroestrutural. Dessa forma, para Forest (2008) “educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal”. Adquirindo constantemente conhecimentos globais que envolvem tanto a realidade social como a cultural, com desenvolvimento pleno das habilidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, e ainda, das habilidades cognitivas, psicomotoras e socioafetivas.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, também adota-se a divisão por faixas etárias. A opção de organização dos objetivos, conteúdos e orientações didáticas por faixas etárias e não pelas designações institucionais – creche e pré-escola – pretendeu considerar a variação de faixas etárias encontradas nos vários programas de atendimento nas diversas regiões do país, buscando dentro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (art.30 cap. II, seção II), traçar suas próprias diretrizes, a fim de atentar para as particularidades existentes e necessidades de crianças de 0 a 6 anos. Considerou-se o mundo sociocultural e natural (instrumentalizou a ação do professor, onde suas experiências servem como referência para a prática educativa). Foram concebidas categorias curriculares para organizar os conteúdos – âmbitos e eixos (como trabalhar? / para quê? / por quê?), ressaltando a importância da relação entre a Formação Pessoal e Social, e Conhecimento de Mundo.
A Formação Pessoal e Social refere-se à construção do sujeito; o Conhecimento de Mundo refere-se à construção das diferentes linguagens e às relações que estabelecem os objetos de conhecimento. Cabe ao professor ter perfil para trabalhar com crianças dessa faixa etária, considera-se:
1.competência polivalente;
2.formação ampla que lhe proporcione condição de ser um aprendiz;
3.suas ações deverão ser planejadas para que ocorra êxito nos projetos educativos que venha desenvolver;
4.deverá estar comprometido com a prática educacional. (REFERENCIAL CURRICULAR PARA EDUCAÇÃO INFANTIL, 1999, p. 37)
A essas considerações acima descritas, objetivos foram traçados obedecendo a critérios que propiciam o desenvolvimento da Educação Infantil e estes estão relacionados à ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social. Além dos objetivos específicos, o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1999, p. 63) menciona a definição dos objetivos gerais, os quais são:
a) Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;
b) Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar;
c) Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social;
d) Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração;
e) Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação;
f) Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;
g) Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
h) Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade.
O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (1999, p.65) ainda propõe programas e projetos curriculares de instituições infantis, visando o bem estar da criança e ambiente de trabalho favorável, como:
1. Condições externas: a proposta curricular deve estar vinculada às características socioculturais da comunidade na qual a instituição está inserida, ou seja, conhecimento da população, condições de vida, etc., possibilitarão um trabalho educativo que atenda a diversidade existente em cada grupo social.
2. Condições internas: implica no funcionamento da instituição educacional para que haja um bom desenvolvimento no projeto pedagógico.
3. Ambiente Institucional: cooperação e respeito entre os profissionais.
4. Formação do Coletivo Institucional: o coletivo de profissionais é responsável pela construção do projeto educacional e do clima institucional.
5. Espaço para formação continuada: importância de reuniões, palestras, visitas e atualizações, ambiente favorável para troca de experiências.
6. Espaço Físico e Recursos Materiais: preparação adequada do ambiente para que a criança possa aprender de forma ativa na interação com outras e com os adultos.
7.Versatibilidade dos Espaços: implica na organização e mudança constante do espaço.
8. Os Recursos materiais: deverão ser os mais variados: mobiliário, espelhos, brinquedos, livros, lápis, papéis, pincéis, tesouras, cola massa para modelar ,etc.
9. Acessibilidade dos Materiais: os materiais devem estar dispostos de forma acessível às crianças.
10.Segurança do Espaço e os Materiais: proteção adequada onde exista possibilidade de risco e materiais de boa qualidade.
11.Critérios para a formação de Grupos de Crianças: por idade e quantidade, exemplo: crianças de 12 meses – 6 crianças por adulto.
12.Organização do tempo: prevê atividades de repouso, alimentação e higiene.
13.Ambiente de cuidados: refere-se a um ambiente que considere as necessidades das diferentes faixas etárias, das famílias e as condições de atendimento.
14.Parceria com as famílias: implica em respeitar os vários tipos de estruturas familiares; diferentes culturas, valores e crenças; estabelecer comunicações; incluir o conhecimento familiar no trabalho educativo.
O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil também mostra que capacidades de ordem física estão associadas à possibilidade de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, ao auto conhecimento, ao uso do corpo na expressão das emoções, ao deslocamento com segurança; as capacidades de ordem cognitiva estão associadas ao desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e apropriação de formas de representação e comunicação envolvendo resolução de problemas; as capacidades de ordem afetiva estão associadas à construção de auto-estima, às atitudes no convívio social, à compreensão de si mesmo e dos outros; as capacidades de ordem ética estão associadas à possibilidade de construção de valores que norteiam a ação das crianças; as capacidades de relação interpessoal estão associadas à possibilidade de estabelecimento de condições para o convívio social.
É preciso estar comprometido com o outro para se poder educar, não fazendo distinção ou diferenciação. As diretrizes curriculares definem-se de forma integrada, sem privilegiar um aspecto em detrimento de outro levando em consideração as necessidades das crianças de acordo com os padrões e valores da cultura e da sociedade onde se encontra. Diante deste contexto, os CMEIs de Telêmaco Borba, buscam constituir-se num espaço de educação e cuidado, oferecendo condições para que as crianças possam se desenvolver plenamente, onde o trabalho desenvolvido nas instituições estão embasados nos seguintes critérios:
• Respeito à dignidade e aos direitos das crianças consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas, preservando suas características etárias e atendendo suas necessidades básicas;
• Direito de brincar como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
• Acesso ao saber e aos bens sócio culturais disponíveis ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas a expressão, comunicação, interação social, pensamento à ética e à estética;
• Socialização por meio de sua participação nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma;
• Atendimento aos cuidados essenciais à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade;
• Condições para desenvolver de forma harmoniosa e a sua personalidade para que possa ser uma pessoa feliz e integrada a sociedade;
• Direito a atenção individual respeitando as especificidades de cada criança, compreendendo seus ritmos, dificuldades e necessidades;
• Direito a um ambiente aconchegante, seguro e estimulante;
• Direito à alimentação adequada, que atenda às necessidades de cada grupo em sua faixa etária, respeitando ritmos, preferências num processo de construção de hábitos alimentares adequados.
Assim, a organização do trabalho pedagógico também está relacionada à rotina de funcionamento da instituição, uma vez que os tempos existentes nessa rotina possibilitarão a organização do trabalho juntamente com a criança, por isso é importante definir alguns prazos e horários para que as crianças não passem muito tempo ociosas, ou em atividades apenas de cuidado. Além disso, todos os momentos na instituição devem ser educativos, promovendo o equilíbrio entre o educar/cuidar, com atividades permanentes e atividades diversificadas, ambas constituindo-se em momentos educativos e pedagógicos.
As atividades permanentes contemplam: higiene, banho, troca, refeições, o repouso, o brincar, a chegada, a saída, história, roda da conversa e outras.
As atividades diversificadas configuram-se em visitas e/ou pequenas excursões, experiência, pesquisa, entrevista, teatro e outras. Todos esses momentos exigem planejamento e atenção especial, buscando promover o desenvolvimento da inteligência e criatividade da criança, resultando sempre em novas aprendizagens, onde o cuidar e o educar estejam relacionados, tendo a linguagem como eixo norteador do trabalho, num processo interdisciplinar.
Assim, a função da escola fundamenta-se na certeza de que o ser humano pode desenvolver-se intensamente e ampliar a aprendizagem, por meio de um processo organizado e planejado de ensino. Como destaca Saviani (1997, p. 11) “para saber pensar e sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, o que implica o trabalho educativo”. Com isso, o papel da docência se torna fundamental no processo de humanização, onde o professor necessita ter domínio do conteúdo científico, organizando-o, refletindo sobre ele e compreendendo-o em sua realidade educacional, com habilidades de criar e desenvolver propostas pedagógicas de acordo com as reais necessidades dos seus alunos, para que os mesmos possam ir além do senso comum, dominando o conhecimento e elaborando conceitos próprios de forma autônoma.
É possível afirmar que a tarefa a que se propõe a pedagogia histórico-crítica em relação à educação escolar implica:
a) Identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações bem como as tendências atuais de transformação;
b) Conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares;
c) Provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção vem como as tendências de sua transformação. (SAVIANI, 1997, p. 14)
E, para tanto, a Proposta Pedagógica considera que os conteúdos são de suma importância na vida dos alunos, para inseri-lo na sociedade como um ser atuante no meio onde vive. Sendo assim, se faz necessário trabalhar conteúdos que tenham significado para o educando, estando contextualizado e fundamentado cientificamente em busca da elaboração de conceitos próprios que garantam a instrumentalização para a transformação social, onde a escola estando a serviço da transformação social necessita oferecer aos alunos, de qualquer classe, a compreensão de seu papel social e realmente efetivá-lo na prática.