EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Historicamente a função de educar, mesmo informalmente, era desenvolvida pela família, igreja, trabalho, lazer e meios de comunicação. A instituição escolar, que oferece a educação formal, surgiu de forma gradativa, ganhando força a partir do século XVI, momento em que a constituição de modo de vida passou a ter um novo contexto social. A burguesia, a fim de firmar seu posicionamento frente à sociedade, deixou de obedecer as determinações da igreja, buscando novas estratégias para reivindicar formas mais concretas de vida, por isso, era necessário recorrer a uma educação que lhes desse condições de dominar a natureza. Dessa forma os fundamentos sociais, morais, econômicos, culturais e políticos da sociedade antiga foram sendo superados desde a instauração da sociedade moderna, surgindo no início do século XVII as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas, resultantes do reconhecimento e valorização que elas passaram a ter no meio em que viviam, e com isso surgem mudanças no quadro educacional. Com as modificações nas relações sociais que se estabelece na Idade Moderna (séc. XVII) a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família na sociedade. No material on line sobre a História da Educação Infantil. Disponível em: http://www.uff.br/feuff/departamentos/docs_organizacao_mural/educacao_ infantil_e_leis.doc (2008), destaca-se que: A partir do século XIII, há um crescimento das cidades devido ao comércio. A Igreja Católica perde o poder com o surgimento da burguesia, sendo este o responsável pela assistência social. Concentra-se a pobreza. E a partir do século XVI, descobertas científicas provocaram o prolongamento da vida, ao menos da classe dominante. Neste mesmo momento surgem duas atitudes contraditórias no que se refere à concepção de criança: uma a considera ingênua, inocente e é traduzida pela paparicação dos adultos; enquanto a outra a considera imperfeita e incompleta e é traduzida pela necessidade do adulto moralizar a criança. Essas duas atitudes começam a modificar a base familiar existente na Idade Média, dando espaço para o surgimento da família burguesa. No século XVIII a era pré-industrial e industrial necessitava das massas com um mínimo de estabilidade e, para isso, família estável seria um instrumento útil para a sujeição. Assim surge uma nova organização social da família, e essa é fruto da evolução política e econômica da época moderna. Dessa forma, percebe-se que esse sentimento surgiu quando a sociedade passou a ter consciência da particularidade infantil, particularidade essa que distingue essencialmente a criança do adulto. Pode-se constatar que Campanella (1973) já demonstrava uma preocupação com a educação da criança pequena e, desde então, verificou-se que surgiram as primeira propostas educativas contemplando a educação da criança de 0 a 6 anos. Muitos autores se destacaram no desenvolvimento da Educação Infantil, dentre eles: Comênius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel, desenvolvendo seus ideais sobre educação e incluindo aí a educação para a infância, influenciados por idéias de universalização dos conteúdos da instrução, seu caráter moderno e científico, a didática revolucionária, a articulação da instrução com o trabalho, a importância do trabalho agrícola, sempre marginalizado na reflexão dos filósofos e pedagogos. De acordo com Almeida, (2008), disponível no material on line: http://www.omep.org.br/artigos/palestras/01.pdf, Comênio é reconhecido como o maior educador e pedagogista do século XVII e um dos principais pensadores da história da Pedagogia. Com a “Didática Magna”, enfatiza a importância da economia do tempo para o ensino. Esta foi organizada em quatro períodos considerando os anos de desenvolvimento, quais sejam: a infância, puerícia, adolescência e juventude, sendo que cada um desses períodos durava seis anos. Ao ler o plano da escola materna, podemos constatar que ele foi elaborado atribuindo aos pais uma tarefa educativa de muita responsabilidade, pois cabia-lhes a responsabilidade pela educação da criança antes dos sete anos. Todos os ramos principais que uma árvore virá a ter, ela fá-los despontar do seu tronco, logo nos primeiros anos, de tal maneira que, depois apenas é necessário que eles cresçam e se desenvolvam. Do mesmo modo, todas as coisas, que queremos instruir um homem para utilidade de toda a vida, deverão ser-lhes plantadas logo nesta primeira escola. (COMÊNIO in ALMEIDA, 2008) Comênio atribui aos pais a responsabilidade da educação da criança pequena, representando um avanço para a época, pois até então, os pais não tinham tal responsabilidade, além disso o grande Pedagogista destaca que o período infantil tem suas especificidades e suas repercussões na vida do ser humano, e com esses pensamentos ampliou o trabalho em diversas áreas, como como afirma Almeida (2008) a Metafísica, ciências Físicas, óptica, astronomia, geografia, cronologia, história, aritmética, geometria, estática, artes mecânicas, dialética,gramática, retórica, poesia, música, economia doméstica, política, moral (ética),religião e da piedade. Diante disso o homem busca uma sistematização do saber, realizando novas tentativas de ação para transmitir às crianças, a moderna instrução, que de acordo com Manacorda (1989, p.227) “de um conteúdo ‘real’ e ‘mecânico’, isto é, científico-técnico em vista de atividades trabalhistas ligadas às mudanças que vinham acontecendo nos modos de produção”. A partir deste momento a Revolução Burguesa introduziu a necessidade de elaboração de novos métodos educacionais, adequados à nova ordem social e “sob a forma oblíqua do deísmo, primeiro, e depois sob a forma mais crua do ceticismo, a burguesia se esforçou por expulsar a igreja dos seus últimos redutos”. É nesse contexto que Almeida (2008) destaca as contribuições de Jean Jacques Rousseau, “no delineamento da educação da criança pequena de sua época. Considerado como uma das personalidades mais destacadas da história da pedagogia, apesar de não ter sido propriamente um educador”. Influenciando grandemente a educação na modernidade, considerando a criança como um ser pensante que vive em um mundo próprio. Almeida (2008) “evidenciando a necessidade de não mais considerar a criança como um homem pequeno, mas que ela vive em um mundo próprio cabendo ao adulto compreendê-la”. Ao ressaltar esse aspecto, direciona a discussão para o reconhecimento da necessidade de se enxergar a infância com um período distinto, que apresenta características peculiares, as quais precisam ser estudadas e respeitadas. Rousseau chama atenção para esse aspecto ao afirmar: Procuram sempre o homem no menino, sem cuidar no que ele é antes de ser homem. Cumpre, pois, estudar o menino. Não se conhece a infância; com as falsas idéias que se tem dela, quanto mais longe vão mais se extraviam. A infância, tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhes são próprias. (LUZURIAGA, 2001p. 166) Rousseau foi um dos primeiros filósofos a defender a idéia de que a infância é um período específico no desenvolvimento humano. Segundo Rousseau (In: Drouet, 1997, p. 11) desde a Idade Média até o século XVIII a criança era vista como ‘um adulto em miniatura’. Um ser que sabia menos, ignorante, e não um ser que tinha estrutura de pensamento diferente do adulto. Entretanto verifica-se que cada idade, cada etapa da vida tem sua perfeição conveniente, a espécie de maturidade que lhe é própria. Assim, a infância é um período em que se vê, se pensa e sente o mundo de um modo próprio. "A ação do educador, neste período, “deve ser uma ação natural, que considere as peculiaridades da infância, que marcam a diferença em relação à razão adulta”. (ROCHA,1995, p.41) Diante deste contexto, Eby (1978, p. 395) lembra que Rousseau apresenta novas idéias, principalmente quando “Introduziu a concepção de que a criança era um ser com características próprias em suas idéias e interesses, e desse modo não mais podia ser vista como um adulto em miniatura”, onde por meio de suas idéias educacionais, pode-se dizer que provocou uma revolução na pedagogia, centrando os interesses pedagógicos no aluno e não mais no professor, onde a infância não era apenas uma via de acesso, um período de preparação para a vida adulta, mas tinha valor em si mesma, cabendo ao professor afastar tudo o que pudesse impedir a criança de viver plenamente sua condição e ritmo da natureza, contrariando os dogmas religiosos da época, que preconizavam o controle dos infantes pelos adultos. Almeida (2008) destaca ainda que no Século XVIII, no auge da Revolução Francesa, destaca-se a figura de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), considerado o “educador da humanidade”. Influenciado por Rousseau, preocupou-se com a formação do homem natural, contrariamente ao seu antecessor, buscou unir esse homem à sua realidade histórica. O autor também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação tradicional, considerando que a força vital da educação estaria na bondade e no amor. Para ele, o aluno passa da posição passiva para uma posição ativa, onde a ação significa: observação, investigação, coleta de material e experimentação. O sistema pedagógico de Pestalozzi tinha como pressuposto básico propiciar à infância a aquisição dos primeiros elementos do saber, de forma natural e intuitiva. Foi considerado um dos precursores da educação nova que ressaltou a importância de se psicologizar a educação e definí-la em função das necessidades de crescimento e desenvolvimento da criança. Com isso Pestalozzi inovou os métodos didáticos com o uso do lápis, lousas individuais, letras do alfabeto em cartões, excursões de observação e coleta de material, instrução simultânea em classe, também destacou o valor educativo do trabalho manual, bem como a importância da criança desenvolver destreza prática. De acordo com Oliveira (2002, p. 14), Pestalozzi em 1774, criou um orfanato para crianças pobres em Stanz, e defendia que a educação deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, sob um clima de disciplina estrita mas amorosa, o que contribuiria para o desenvolvimento do caráter infantil. Para Pestalozzi a organização da escola era feita da seguinte maneira: uma classe com os que tinham menos de oito anos, outra com os meninos de oito a onze anos e a terceira com os alunos de doze a dezoito anos. Nascimento e Moraes (2008) disponível no site: http://br.geocities.com/maeutikos/pdfspedagogia/PESTALOZZI.DOC, destacam que Frederick Eby resume com clareza os princípios educacionais de Pestalozzi, relacionados a seguir: 1) Pestalozzi tinha uma fé indomável e contagiante na educação com o meio supremo para o aperfeiçoamento individual e social. Seu entusiasmo obrigou reis e governantes a se interessarem pela educação das crianças dos casebres. Democratizou a educação, proclamando ser o direito absoluto de toda criança ter plenamente desenvolvidos os poderes que Deus lhe havia dado. 2) Psicologizou a educação. Quando não havia ciência psicológica digna desse nome, e embora ele próprio tivesse apenas as mais vagas noções sobre a natureza da mente humana, Pestalozzi viu claramente que uma teoria e uma prática corretas de educação deviam ser baseadas numa tal ciência. 3) Foi o primeiro a tentar fundamentar a educação no desenvolvimento orgânico mais que a transmissão de idéias. 4) Pesquisou as leis fundamentais do desenvolvimento. 5) A educação começa com a percepção de objetos concretos, o desempenho de ações concretas e experiência de respostas emocionais reais (...) 6) O desenvolvimento é uma aquisição gradativa de poder. Cada forma de instrução deve progredir de modo lento e gradativo. 7) A religião é mais profunda do que dogmas, ou credos, ou a memorização do catecismo ou das Escrituras. Pestalozzi exigia que os sentimentos religiosos fossem despertados antes que palavras ou símbolos viessem a ser levados à criança. 8) Vários recursos metodológicos novos devem sua origem a Pestalozzi. Empregava as letras do alfabeto presas a cartões e introduziu lousas e lápis. A inovação mais importante foi a da instrução simultânea, ou em classe. Isso não era novo, mas não havia sido posto em prática de um modo generalizado. 9) Pestalozzi revolucionou a disciplina, baseando-a na boa vontade recíproca e na cooperação entre aluno e professor. 10) Deu novo impulso à formação de professores e ao estudo da educação como uma ciência". Para Pestalozzi a família constitui a base de toda a educação por ser o local em que encontramos o afeto e o trabalho comum. Afirma também que a experiência religiosa íntima e não-confessional desperta o sentimento religioso na criança. LIMA, Sandra Vaz. A Educação Infantil em Telêmaco Borba: uma história em construção. Telêmaco Borba, 2008.